António Janeiro ( 1925 – 1971 )

António Janeiro ( 1925 – 1971 )

António João da Rosa Janeiro, sócio n.º 19 do Clube de Aeromodelismo de Lisboa, foi também um dos praticantes dos primeiros tempos do CAL, que pode ser visto em diversas fotos da época publicadas neste site. Foi, sobretudo, um entusiasta do voo circular, tendo sido um dos pioneiros na prática de corridas FAI (com um dos modelos mais famosos da época – o “Miss FAI”) e de voos com motores de jacto (pulso-reactor, no caso, com o “Dyna Jet”).

Mas, onde o seu contributo para a prática do aeromodelismo foi muito importante foi, principalmente, ao serviço do ensino do mesmo, como Instrutor de Aeromodelismo.

Pelo seu ensino, passaram muitos aeromodelistas, destacando-se alguns nomes que ainda hoje persistem, como João Barbosa, Pereira da Costa ou o autor destas linhas, desde cedo também ligados ao CAL. Por esse motivo, nalgumas frases, tenho de tomar o discurso na primeira pessoa.

Um trabalho ligado ao aeromodelismo, que António Janeiro realizou – e de que poucos se lembram –, foi uma tradução do livro “Aéromodèles” de J. Guillemard, ex-secretário da Comissão Internacional de Modelismo da FAI.

Neste site, e em mais de um local, tem sido assumidamente invocado o papel de importantíssimo relevo que a Mocidade Portuguesa teve no panorama do Aeromodelismo nacional.

É certo que a Mocidade Portuguesa tinha padrões de organização decalcados da Juventude Hitleriana. Mas esses mesmos padrões, também foram, aliás, seguidos pelas várias organizações de Jovens Pioneiros (ou afins) criadas, mais tarde, nos países de influência da ex-União Soviética. Eram métodos de organização e enquadramento dos jovens, inerentes a sistemas de governo não-democráticos, e que têm de ser entendidos à luz do pensamento da época.

Passados que são quase quarenta anos sobre o 25 de Abril, estamos em condições de poder, sem paixões políticas, dar o justo realce ao papel que a Mocidade Portuguesa teve no desenvolvimento dos desportos aeronáuticos. Papel esse que, nos tempos actuais, nenhuma entidade estatal assume.

Vem esta introdução a propósito de referir que António Janeiro era funcionário administrativo da Mocidade Portuguesa, na sua sede, no Palácio da Independência (era chefe de secção da área dos desportos aeronáuticos) e tinha, entre outras funções, a responsabilidade de prover o fornecimentos de materiais didácticos e de construção para os Centros de Instrução da MP, que funcionavam nas diversas Escolas Secundárias e Liceus do País.

Também, aos Sábados de tarde, dava instrução de Aeromodelismo, na Escola Industrial Marquês de Pombal, onde fui seu aluno.

A imagem que se conserva de António Janeiro é a de uma pessoa afável, competente e disciplinador no ensino, com um tipo de ironia muito próprio, sempre pronto a ajudar, para além mesmo do que seria o normal desempenho nas suas aulas. Também, apesar de funcionário da MP, nunca se lhe ouviu qualquer tipo de discurso de doutrinamento político.

Quando a secção de aeromodelismo da Escola Marquês de Pombal (antiga) esteve suspensa, por razões de falta de instalações, ele arranjou forma de transferir a instrução para a Casa da Mocidade, na Rua Almeida Brandão (à Estrela), onde funcionava o Centro Técnico de Aeromodelismo da MP, e onde, os que à época éramos seus alunos, tivemos oportunidade de contactar em directo com os nomes famosos do Aeromodelismo, tais como José Carlos Rodrigues, António Barata, António Bento, Manuel Simões ou João Silva, entre outros, que também lá colaboravam.

Terminada a escola secundária, durante o meu curso de engenharia e, mais tarde, como professor na mesma Escola Marquês de Pombal, sempre lá fui encontrar António Janeiro pronto a dar a ajuda (por vezes também em materiais) que fosse necessária. Aliás, nessa época, e após uma restruturação que a Mocidade Portuguesa sofreu em 1966, com descentralização de competências para as Escolas, a função que António Janeiro exercia no Palácio da Independência ficou esvaziada, e ele passou também a exercer o cargo de professor (mestre) na própria Escola Marquês de Pombal.

Paralelamente à sua actividade de aeromodelista, António Janeiro também foi piloto civil de aviação ligeira, tendo tirado o seu brevet em 1954. Cerca de dois anos mais tarde, tornou-se instrutor de voo da Escola de Voo da Mocidade Portuguesa, a qual funcionava na Base de Alverca.

Foi a bordo de um “Piper Cub”, pilotado por ele, que voei pela primeira vez. Também foi com ele, no “Auster” CS-ANA (e mais dois outros “Auster”) que, fazendo parte de um grupo de aeromodelistas, fomos participar no festival aeronáutico que, em Junho de 1967, assinalou a inauguração do aeródromo de Viseu.

E foi no exercício da sua actividade, como instrutor de voo, que António Janeiro, aos 46 anos de idade, no fatídico dia 17 de Setembro de 1971, encontrou a morte aos comandos do CS-ANA, numa manobra infeliz, quando, no Aeródromo de Évora, durante uma instrução de voo, procedia ao reboque de planadores.

Uma vida, ainda que curta, inteiramente dedicada à causa aeronáutica, ao serviço da qual morreu.

António Janeiro, muito obrigado!

por José Colarejo

Dois pilotos de Corridas, já famosos em 1953:
Carlos Beja e António Janeiro (à direita)
À esquerda, António Janeiro, no Concurso do Vilanovense, realizado
no Porto, em 11 de Novembro de 1956

No Concurso BIP-BIP, organizado pela BP, em 24 de Junho de 1962

António Janeiro apoia e observa a partida de um reabastecimento de Corridas, acabado de realizar pelo aluno José Colarejo.
Alguns dos alunos e instrutores. Ao lado de António Janeiro (à direita na foto), outro instrutor carismático: Santana Leite, do Liceu Camões. Assinalados pelos círculos azuis, José Colarejo e Pereira da Costa, seus alunos, participantes deste concurso.
Junto ao “Piper Super Cub” CS-AAJ, numa pausa de uma instrução de voo 

Tradução de António Janeiro, do livro “Aéromodèles” de J. Guillemard 

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