Pereira Lima ( 1936 – 1988 )

Pereira Lima ( 1936 – 1988 )

Pereira Lima. De seu nome completo Manuel António Pereira Lima, foi um dos grandes mestres do Aeromodelismo Ibérico.

Tal como tantos outros aeromodelistas do seu tempo iniciou-se na modalidade através da Mocidade Portuguesa, na Escola Técnica de Setúbal. Como era hábito, o aluno era conduzido através dum processo evolutivo racional. Primeiro, os planadores; depois, os modelos de motor de “borracha”, para só depois passar ao voo circular.

Este aproximação tinha a grande virtude de fazer os alunos aprenderem a construir. Uma construção a partir dos materiais básicos e não de kits pré-construídos. Por sua vez, os planadores permitiam perceber a essência do voo e da aerodinâmica. Naturalmente, esta caminhada, aliada a uma habilidade manual inultrapassável, permitiu a Pereira Lima ter uma base sólida para voos mais altos.

Terminada a sua escolaridade, Pereira Lima, deslocou-se de Setúbal para Odivelas, onde se fixou para trabalhar, em Lisboa, num grande fabricante de automóveis.

Sempre ligado à modalidade, Pereira Lima, assumiu a função de instrutor de aeromodelismo no liceu de Setúbal. É interessante referir que, nessa altura, a maior parte das pessoas não dispunham de automóvel próprio. Assim, o Manuel António, bem cedo, aos sábados, lá partia de Odivelas para, utilizando quatro transportes públicos, chegar, duas horas e meia de viagem depois, à cidade que o viu crescer. Tudo pelo gozo desinteressado de ensinar o seu Aeromodelismo aos mais novos. Isto anos a fio. Uma situação pouco compreensível pelos padrões actuais de sociedade.

Depois, durante a semana, construía os seus próprios modelos. Primeiro modelos de Velocidade – os “speeds” – depois os modelos de Corridas de Equipa – os “racers”. A primeira das modalidades foi um devaneio. O seu grande amor sempre foram os “racers”.

Durante vinte e três anos fez equipa com o mesmo piloto, sempre em representação do Clube de Aeromodelismo de Lisboa. Num trabalho colectivo, típico desta modalidade, Pereira Lima sempre assumiu os aspectos práticos, deixando os trabalhos de concepção teórico-prática para o seu companheiro. Uma simbiose perfeita.

Construía como poucos. Isso mesmo foi reconhecido por um campeão europeu da modalidade que se sentiu envergonhado ao comparar os seus modelos com os da equipa portuguesa.

Outro aspecto, onde a sua notoriedade era reconhecida por todos, era a sua capacidade de afinar motores, esse elemento fundamental nas Corridas de Equipa. Reconhecia um motor mal afinado a quilómetros de distância, facto que lhe provocava de imediato um ataque de alergia. Era superior às suas forças. Lá tinha que dar aquele “jeitinho” que fazia a diferença.

Contudo, para que os motores aproveitassem toda a sua potência, Pereira Lima tornou-se um mestre no acabamento de hélices de carbono. Eram cinco ou seis horas de trabalho de comparador, goniómetro e paquímetro para que o produto final saísse com a perfeição que lhe estava nas veias.

Desportivamente, Pereira Lima ganhou todas as provas que havia para ganhar. Foi Campeão de Portugal por diversas vezes. Foi Campeão Ibérico. Só não foi Campeão Europeu porque esse campeonato, na época, não estava de modo algum ao alcance dos portugueses.

Infelizmente, uma doença grave roubou este grande mestre, precocemente, ao convívio da comunidade aeromodelistica nacional. Mesmo no seu leito de morte nunca deixou de ser um Aeromodelista. Ainda na semana anterior ao fim da sua “corrida” por este mundo, pediu uma revista de aeromodelismo para tirar umas “ideias” para o seu próximo modelo. Aquele que, afinal, ele não chegou a começar…

Pereira Lima foi um Mestre. Um Mestre como instrutor, um Mestre como desportista, um Mestre como Companheiro.

por Fernando Teixeira

Os Campeões Nacionais de Voo Circular de 1969
À direita da foto: a equipa de corridas FAI, Pereira Lima (mecânico) e Fernando Teixeira (piloto)
Pereira Lima, na saída de um reabastecimento, no Campeonato da Europa, em 1976, em Verviers (Bélgica)
Pereira Lima e Fernando Teixeira, na Pista de Voo Circular do
Aeroporto da Portela

Equipa nacional a caminho do Campeonato Ibérico de 1970, em Saragoça

Em primeiro plano, Pereira Lima e Fernando Teixeira

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