Ruy Miranda (1929-1987)

Ruy Miranda (1929-1987)

Tivemos vários excelentes especialistas de motores, mas um dos mais conhecedores, rigoroso e criativo foi, sem dúvida, Ruy Henrique Lopes Miranda.

Dos seus muitos trabalhos nesta área podemos destacar a concepção e construção de um motor a dois tempos de 10 cm3, de excelentes características, que lhe permitia obter elevadas marcas na categoria de Velocidade III.

Contado por ele próprio, construiu um motor a gasolina aos 15 anos de idade! Como “depois de o construir, era necessário encontrar um aproveitamento”, tratou de construir um carro, o que não o satisfez. Experimentou depois modelos de barcos e de aviões, acabando por estabilizar no aeromodelismo, por volta de 1960.

Chegou a construir um motor “Wankel” de 1,5 cm3, na época em que aquele tipo de motores estava “na moda”, “mas só por curiosidade, porque era um motor de pouca potência”.

Para além deste e de outros trabalhos originais, dedicou muito da sua atenção a modificações dos motores de fábrica, com a finalidade de aumentar as suas potencialidades.

Ficaram célebres, na altura, as alterações que introduziu no ETA 29, de 5 cm3, e nos motores da classe I, de 2,5 cm3 de cilindrada, Webra Mk I, Super Tigre, MVVS e Rossi.

Engenheiro maquinista naval, aproveitava as grandes viagens para, nas horas de folga a bordo, ir construindo os seus modelos e motores. Chegou a ter problemas com os funcionários alfandegários, pois estes não acreditavam que os aeromodelos e os motores tivessem sido feitos a bordo!

Ruy Miranda fez-se sócio do CAL em 1955, mas só em 1958 se começou a dedicar às competições desportivas e, logo na primeira em que entra – o IX Campeonato Nacional –, impressiona pelo rigor do modelo com que concorre em Acrobacia.

Mas a sua modalidade de eleição é a Velocidade e, na década de 60, vemo-lo a ganhar quase todas as provas em que participa.

Tornou-se, assim, no sucessor daquele que foi o grande campeão de velocidade dos anos 50, Fernando Simões, o qual sempre obteve de Ruy Miranda alguns conselhos técnicos que lhe foram muito úteis.

Em 1962, Ruy Miranda vence em Velocidade da categoria I o XIII Campeonato Nacional, o III Campeonato da Estremadura e o Campeonato do Estrela e Vigorosa Sport.

No ano seguinte, ainda em Velocidade I, ganha todas as provas em que entra:

  • XIV Campeonato Nacional
  • XI Campeonato de Lisboa
  • Troféu Infante de Sagres
  • Taça Fim de Ano

Também como mecânico de João Silva, em Corridas, vence todas as provas a que concorre.

Em 1964 comete a proeza de se classificar em 1.º lugar nas provas de Velocidade das 3 categorias (motores de 2,5, de 5 e de 10 cm3) do XV Campeonato Nacional.

E assim por diante…

Em 1972 ainda o vemos como campeão nacional de Velocidade II e, na primeira metade dos anos 80, encontramos muitos artigos técnicos seus, sobre motores, baterias e combustíveis.

Pelo meio, nunca parava e construía os mais variados modelos, destacando-se, entre outros, um escala de um F-86, propulsionado por um motor pulso-reactor e um F-16, propulsionado por uma turbina interna, accionada por um motor “glow”.

O seu maior título foi o de Campeão Ibérico, em 19??, em velocidade.

Em 1987, depois de uma prolongada doença, Ruy Miranda deixou-nos para sempre.

Mas ficou a memória de um íntegro companheiro que a todos apoiou com os seus conselhos e saber, memória que o CAL quis manter viva através do Troféu Ruy Miranda, que veio a realizar ao longo de vários anos. Esta prova é hoje em dia denominada Troféu dos Mestres em homenagem a todos os grandes nomes do CAL, infelizmente já desaparecidos.

Os Campeões Nacionais de Voo Circular de 1969.
Assinalado pelo círculo, Ruy Miranda. 
Ruy Miranda, numa notável caricatura da autoria de António Barata.
Ruy Miranda era um Aeromodelista muito completo.
Para além de uma construção primorosa, projectava e desenhava de forma muito competente.

Em cima: O “Velocíssimus”, ele próprio.

À esquerda: O plano do “Velocíssimus”, modelo de Velocidade, publicado na prestigiada revista “Aeromodeller”, na Edição Anual de 1971 / 1972.
Preparando o voo de um modelo de velocidade (classe IV), equipado com o mesmo “Dyna-Jet”.
Ruy Miranda vencedor em Velocidade, no XI Campeonato de Lisboa, realizado em 
12 de Maio de 1963, na Portela
Equipa nacional a caminho do Campeonato Ibérico de 1970, em Saragoça. No primeiro plano, Ruy Miranda com o seu “Velocíssimos”
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