Viriato de Carvalho – Curriculum aeromodelístico
Viriato de Carvalho foi, no CAL, um dos colaboradores e dirigentes que, ao longo de duas décadas, mais contribuiu para o desenvolvimento do Clube.
Mas foi uma figura discreta, reservada, como se costuma dizer, sempre atrás das câmaras, deixando a luz da ribalta para os outros.
A primeira obra concreta de Viriato de Carvalho, que ficou para a história do CAL, não foi um aeromodelo nem uma vitória numa qualquer modalidade, mas sim o texto e a passagem à máquina, em “stencil”, da primeira Circular que a Comissão Directiva endereçou aos “Exmos. Sócios” (note-se que, na altura, o sócio era sempre tratado por “excelentíssimo”), em 2 de Janeiro de 1953.
A Circular começa por anunciar a realização, em 11 de Janeiro, da 4.ª saída para o campo de Alverca, acrescentando Viriato de Carvalho que:
“... Como habitualmente, o embarque far-se-á, pelas 8:46, na Estação do Rossio”.
Em seguida, dá nota de dois torneios inter-sócios (um dedicado a Planadores e outro a Borrachas), pedia livros aos sócios para a constituição da Biblioteca do Clube e abria a “Campanha do mais um”, incentivando os 65 associados, existentes à altura, a conseguirem mais uma inscrição cada um, para assim se poder duplicar rapidamente a população.
No ano seguinte, a Comissão Directiva dá lugar à primeira Direcção efectiva e Viriato de Carvalho é eleito Secretário.
Nunca mais deixou o seu Clube. Cinco anos mais tarde, em 1958, ocupa o 1.º lugar da Direcção, como Presidente, o que sucede várias vezes ao longo de várias décadas, não só como Presidente, mas também como Tesoureiro. É que, quando as coisas não corriam bem pelo Clube, lá se ia chamar o Viriato para “endireitar o barco”.
Faz parte das lendas do CAL que ele nunca terá construído um modelo. Não é verdade: poucas pessoas sabem, mas ele um dia construiu um planador “Baby” e pô-lo a voar!
Não há notícia de que alguma vez tenha concorrido a provas. A sua vocação não era a de ganhar taças, mas sim a de fazer com que outros as pudessem ganhar, contribuindo na retaguarda com o apoio necessário ao desenvolvimento do Clube.
Só um exemplo: em dia de prova, era dos primeiros a chegar ao campo, para preparar a montagem das mesas para o júri, do quadro de classificações e de outros equipamentos. Passava o dia a ajudar na cronometragem e noutras tarefas necessárias e à noite, no Clube, já bastante “estoirado” pelas correrias do dia, ainda encontrava forças para escrever os “press releases” com as classificações dos concorrentes. Aí pela meia noite, ia entregá-los directamente a quatro ou cinco Redacções de jornais diários.
No dia seguinte, todos eles faziam referência ao evento da véspera:
“O CAL levou ontem a efeito mais uma prova do interessante desporto-ciência que é o Aeromodelismo, etc., etc.”
E, de manhã, a nossa satisfação era total: víamos o nosso Aeromodelismo, o nosso Clube e o nosso nome ao lado das notícias importantes do dia.
E isso se devia a Viriato de Carvalho que, no dia anterior, ainda estava bem acordado, quando todos nós já dormíamos a sono solto.
Foi com homens como Viriato de Carvalho que o CAL se tornou rapidamente notado e respeitado.
Foi essa equipa de gente generosa, que tinha gosto em “trabalhar para a cidade”, isto é, em contribuir para uma obra de que outros pudessem beneficiar, que conseguiu criar uma instituição de primeiro plano no meio aeronáutico português.
Uma salva de palmas para Viriato de Carvalho.